flor em poesia
- gabriele arruda

- 19 de fev. de 2024
- 3 min de leitura

No meu velho paraíso perfeito
Eu vivia à mercê do destino condenado pelo aquém.
Não havia cor, alegria ou sequer um reflexo de amor que se descontruía em algum conceito.
Era apenas minha existência que desfalecia na falta de um além.
A principal atração que do palco tomava conta
Era um espinho de dor que espetava a alma que por ele se encantou.
Ele não me pertencia por inteiro, mas eu dele era sem sequer uma ação de confronta.
E no trono de minh’alma o tal espinho me coroou.
Sem flores para presentear a rainha que se assentava sobre o trono
Legiões de demônios aplaudiam a tal cena.
Seriam as mesmas falas sempre, mais uma vez e de novo?
Atuava eu em ensaios tortuosos do que seria uma coroação serena.
Até que Sua voz bradou,
Interrompendo todos os vazios atos em meu palco,
Dando voz à canção que de toda a cena a conta tomou,
Enquanto dentro de mim as antigas chamas ganhavam finais de desfalco.
O palco de minha vida foi tomado por outro Alguém.
O trono não mais me pertencia,
E assistindo a apressada partida de todos os demônios que não mais sorriam com desdém,
Me perguntava se aquilo que ouvia seria o resplendor que os outros chamavam de poesia.
De fato, eras Tu o poeta,
Que sobre o sublime amor escrevia as belas poesias.
Glória alegre, perene e completa
Preenchiam cada uma das Tuas sagradas linhas.
Tu me ensinaste a cantar,
Abriste-me os olhos para ver,
Me conduziste a amar
E permeaste de luz todo o meu ser.
Minha peça agora era Tua,
Tu eras a minha canção.
E sem que tivesse de pedir “Me inclua”
Deste-me um espaço em teu ato, junto a uma oração.
No final de cada cena
Davas-me Tu uma flor
Bela, delicada, serena
Acariciava meu frágil coração rasgado que outrora apenas sentia dor.
Não mais um espinho sem cor,
Agora Tu me livravas de cada um daqueles me espetavam.
Segurava em minha mão uma flor,
E em meu íntimo orações recitavam:
Será que poderia eu também
Fazer parte de Sua poesia?
Sem desejar muito além,
Meu peito ansiava por escrever uma linha.
Eras Tu o poeta,
Mas ousaria eu demais se porventura quisesse também Te escrever poesia?
Foi Tu que me ensinaste a escrever palavra completa,
Como poderia compor a respeito de algo que a Tua glória não refletiria?
Sabendo donde vim e de qual era a minha história,
Temi que minhas rimas a Ti não fossem pertencer,
Que meu coração quisesse para si mesmo atrair glória,
E que o espinho em minha alma voltasse a crescer.
No final de mais um ato,
Deste-me Tu, mais uma vez, uma flor.
E tal dádiva abraçou-me de fato,
Como em todos os outros finais de cena em que fui alcançada pela plenitude de Teu amor.
Como que se não pudesse mais resistir,
Diante de Ti me curvei,
E todo o meu anseio a Ti ofereci,
Quando com carinho me acolheste e em Ti me consolei.
Me disseste que à Tua imagem fui feita,
E por esta razão podia, como Tu, amar, pensar, me comunicar,
E escrever bela poesia, ainda que imperfeita.
Criada por Ti, fui chamada, para Tua glória, a criar.
Caminhando por Teu poema,
E atuando em cada cena da Tua peça,
Aprendi a Te entregar cada dilema
E me livrar de cada medo que porventura me impeça.
Me impeça de lembrar que por Ti fui criada para criar.
Minha história por Ti foi escrita para que sobre Ti pudesse escrever.
Meu coração por Ti foi amado para que aprendesse a Te amar.
Tuas poesias a mim foram oferecidas para que sobre Ti poesia pudesse fazer.
Desde então cada flor que me entregas em mão,
Me lembra a respeito de cada poesia que a Ti posso dedicar,
E da oração que Te peço que escrevas nas paredes de meu coração,
Para nunca esquecer e sempre recordar:
Que assim como as Tuas flores,
Sejam as minhas poesias.
Ainda que quebradas, imperfeitas, incompletas e permeada por dores,
Reflitam elas, como Tuas flores, a esperança da glória a respeito da qual por tantas manhãs me dizias.
Amado Redentor,
Ainda que seja eu tão pequena e quebrada,
Aceito toda a Tua esperança e eterno favor,
E faço aqui essa oração ousada.
A Ti dedico a minha flor em poesia.
És Tu o eterno Poeta.





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